Podia ser assim a descrição da “rapariga com brinco de pérola” mas não é isso que quero transmitir.
Esperava muito pouco e isso é sempre bom quando se vai ver um filme, pode ser que ele nos surpreenda. Aconteceu. O filme retrata o sacrifício que é necessário fazer pela arte, não só o artista tem que sofrer para puder produzir (a dor da beleza que não possui e apenas contempla e tenta transmitir a outros através da sua pintura), como os sacrifícios que os outros têm que fazer para que ela ocorra, a produção de arte.
Uma simples doméstica contratada entra no mundo da etérea beleza, sem o saber, altera o olhar sobre ela e por arrasto a do artista, como para além disso oferece-se como sacrifício para que ela, a obra, possa ser produzida – no fim acaba por ser despedida.
Alguns apenas verão no filme uma história de um amor proibido e que nunca é concretizado, apesar da sua eminência, mas creio que isso é falhar o objectivo do filme. Ele é sobre a arte, como é produzida, quais os factores que a desencadeiam, porquê, de onde eles vieram, o que é necessário sacrificar para ela existir, quem ordena o que deve ser feito, qual o real papel do artista e d@ mode@ sobre ele e a sua obra.
E porquê um brinco de pérola? Porque aparece na orelha de uma simples empregada, o que era uma heresia na altura. Usar algo que não estava nas suas poses era como que roubá-las do seu dono, mesmo sem o acto material a ele associado. E porquê tanta ousadia? Porque o artista assim o quis, a modelo anuiu e porque fazia a diferença. E aqui entra a questão da ruptura.
Um filme engraçado de ser visto, que com um pouco mais de atenção – pelo menos com mais atenção que as pessoas que estavam ao meu lado no cinema e só diziam futilidades, talvez por não haver sangue, mortes ou sexo que as atrai-se – pode captar algumas das questões que referi. Para além disso o filme, do princípio ao fim com a excepção uma ou outra cena, parece uma pintura em movimento.
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