6.26.2004

by Me

Existem dias em que o chão parece querer-nos abandonar, olhamos para os prédios e eles estão tortos, o céu não está no devido sítio e sentimo-nos tontos e solitários.
Ponho uma foto no blog e depois fecho o computador como quem fecha a porta de casa na cara de alguém que espera entrar. Nem um sorriso ou pedido de desculpas. A porta atrás de mim está fechada e apenas deixa escapar um fio de luz que tem a extraordinária capacidade de conseguir iluminar o quarto todo.
Em cima da cama apenas migalhas do meu corpo estilhaçado pela noite e nenhuma formiga caminha no meio desses restos a fazer companhia.

2 comentários:

filipe disse...

"Retrato de Fugitivo

ele caminha pela solidão nocturna dos quartos de hotel
e de fotografia em fotografia chega exausto
ao minucioso poema a preto e branco
mas já não o surpreende a violenta visão do mundo
este lento destroço que um liquido sussurro de prata
revela a partir de iluminada fracção de segundo
e bebe
e ama
e foge de si mesmo
com a leica pronta a ferir como uma bala ecoando
no fundo da memória um néon uma pedra
uma arquitectura de luz e sombra ou um deserto
onde se debruça para retocar os dias com um
lápis
na certeza que sobrevirá a estes perfeitos acidentes
a estes restos de corpos a pouco e pouco turvos
pelo tempo pelo sono ou pela melancolia
mas regressa sempre à transumância das cidades
quando a alba do flash prende o furtivo gesto
sobre o papel fotográfico morre o misterioso fugitivo
depois
vem o medo
que se desprende do olhar imobilizado
e do rosto fotografado
nasce uma vida de infinito caos"

Mais Al Berto "on-line" aqui:
http://www.astormentas.com/din/poemas.asp?start=1

um abraço

Onun disse...

gostei do poema, tal como já gostava do Al berto (o do que já tinha lido dele). Volta sempre que eu vou dando uma saltada regular ao teu blog...abraço