8.04.2004

Ninguém nasce hetero ou homo. As pessoas são construídas hetero ou homo (assim como são construídas como homens ou mulheres, em termos de género). 'Construídas' não quer dizer que haja um complot, com agentes conscientes (embora também os haja). Quer dizer que há modelos complexos, de relações, instituições e símbolos, que empurram as pessoas para certas práticas e discursos (que, no caso da sexualidade, redundam, entre outras coisas, em orientações).*

*'Construção social' é um processo complexo, com inúmeros actores, imensos 'cordelinhos' e mecanismos de suporte. A pessoa 'construída' como homo ou hetero passa a ter essa característica como uma disposição, algo que não se desfaz pela simples vontade da pessoa ou de um terapeuta (uma vez que não foram eles que construiram). É completamente desonesto inferir a partir da teoria construcionista que as pessoas possam mudar de orientação sexual através de 'curas'. O que tão-pouco significa que a orientação sexual seja inata.


Retirei isto do Blog de Miguel Vale de Almeida, professor no departamento de Antropologia do ISCTE e homossexual sem complexos de o afirmar e reivindicar os direitos a que os homossexuais também deviam ter direito.

Estas frases intrigaram-me, não pelo seu conteúdo mas pelas perguntas que me instigam a fazer e que não sei responder:
- se a sexualidade é construída e não é inata, qualquer pessoa é bissexual, pode é decidir apenas ter uma orientação (homo ou heterossexual). Mas a sua base é bissexual, donde é lógico retirar a conclusão que a forma mais correcta de apresentar a sexualidade de alguém é através da bissexualidade? Só que mais tarde pendem mais para um lado?

- se assim é quais são os factores que influenciam as escolhas ou determinam as escolhas das pessoas?

- qual é o papel do género no meio de isto tudo?(se é que tem de ter)

- se a homossexualidade é a negação ou o negativo do considerado hegemónico na sociedade, e se essa negatividade é uma opção e não algo inato que a leva a fazer, qual é a razão dessa oposição em relação ao hegemónico?

- qual é a explicação para que a heterossexualidade tenha-se tornado hegemónico?

- existirá algum cruzamento com as necessidades fisiológicas no mundo animal (excluindo o homem) para a sua reprodução?

- se a escolha da orientação sexual pouco têm haver com a pessoa e se ela apenas recebe o legado transmitido por um outro alguém/instituição ou entidades (não obrigatoriamente conscientes desse facto), em que altura da vida se pode afirmar que a sexualidade de alguém já está predefinida?


ainda não consegui integrar muito bem esta perspectiva sobre a sexualidade e as suas escolhas por existirem demasiadas perguntas sem respostas e que creio serem fundamentais para compreender um pouco mais sobre todo o fenómeno que rodeia a sexualidade (e ao contrário do que este post pode parecer refiro-me a algo muito maior que a própria homossexualidade, refiro-me a toda a sexualidade, homo ou hetero e às construções da sexualidade em cada um dos géneros e os porquês das suas diferenças e se elas são explicáveis ou como cada vez mais parece ser na homossexualidade um preconceito do nosso legado judaico-cristão).

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