A própria personagem não sabe porque começou a andar, onde quer ir, quem é, qual foi a razão inicial disto tudo.
Alguém o encontra, o irmão, tal como o seu filho que não vê faz anos, a mulher desapareceu e percebe-se que isso é a causa do gérmen.
Um amor que nunca mais acaba, uma relação demasiado forte, uma emoção que transborda pelos poros e sufoca a vida que se encontra dentro do magro corpo. Os outros sentem-se igualmente sufocados e embrenhados no subconsciente desta estranha personagem. Todos andam à deriva numa paisagem árida filmada para nos agradar e nos impelir a seguir pelas estradas no seu encalço, sem nada na cabeça, apenas o vasto deserto escaldante.
Os corpos unem-se mas não os dos amantes, uma mulher e um pequeno rapaz, um casal abraça o afastamento e um solitário corpo acelera na camioneta que comprou à espera de ir parar aonde tudo começou, Paris, um pedaço de nada no meio do Texas. Foi lá onde tudo começou.
Wim Wenders consegue-nos transmitir isto no seu filme "Paris, Texas" através de uma fotografia apelativa do deserto, recriando o seu imaginário na nossa cabeça e ficamos a pensar se o Texas é mesmo assim? Será que existem pessoas assim tão humanas na América? As personagens femininas são estrangeiras naquele vasto continente, têm um fundo europeu mas será por isso o nome do filme que nos transporta sempre para a torre Eiffel e não para as grandes máquinas metalizadas sugadoras de petróleo do grande Texas? Alguém que nada procura ou perdeu o que pretendia encontrar e só através da ajuda de outrem reencontra o caminho para o qual nunca foi destinado e perde-se novamente por entre os grandes animais que desbastam o subsolo daquele deserto. Será o deserto texano assim tão bonito como ele nos pretende dizer?
Eu creio que sim e por lá vagueio o meu ausente corpo, no encalço de quem realmente não procuro
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