5.01.2004

Alguém anda, caminha, percorre as terras áridas do Texas apenas munido com uma vontade irracional, um boné vermelho enviado na cabeça, uma boca muda rodeada por uma barba em crescendo e um corpo ausente.
A própria personagem não sabe porque começou a andar, onde quer ir, quem é, qual foi a razão inicial disto tudo.
Alguém o encontra, o irmão, tal como o seu filho que não vê faz anos, a mulher desapareceu e percebe-se que isso é a causa do gérmen.
Um amor que nunca mais acaba, uma relação demasiado forte, uma emoção que transborda pelos poros e sufoca a vida que se encontra dentro do magro corpo. Os outros sentem-se igualmente sufocados e embrenhados no subconsciente desta estranha personagem. Todos andam à deriva numa paisagem árida filmada para nos agradar e nos impelir a seguir pelas estradas no seu encalço, sem nada na cabeça, apenas o vasto deserto escaldante.
Os corpos unem-se mas não os dos amantes, uma mulher e um pequeno rapaz, um casal abraça o afastamento e um solitário corpo acelera na camioneta que comprou à espera de ir parar aonde tudo começou, Paris, um pedaço de nada no meio do Texas. Foi lá onde tudo começou.



Wim Wenders consegue-nos transmitir isto no seu filme "Paris, Texas" através de uma fotografia apelativa do deserto, recriando o seu imaginário na nossa cabeça e ficamos a pensar se o Texas é mesmo assim? Será que existem pessoas assim tão humanas na América? As personagens femininas são estrangeiras naquele vasto continente, têm um fundo europeu mas será por isso o nome do filme que nos transporta sempre para a torre Eiffel e não para as grandes máquinas metalizadas sugadoras de petróleo do grande Texas? Alguém que nada procura ou perdeu o que pretendia encontrar e só através da ajuda de outrem reencontra o caminho para o qual nunca foi destinado e perde-se novamente por entre os grandes animais que desbastam o subsolo daquele deserto. Será o deserto texano assim tão bonito como ele nos pretende dizer?
Eu creio que sim e por lá vagueio o meu ausente corpo, no encalço de quem realmente não procuro

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