Ultimamente tenho sido confrontado com algumas pessoas (na verdade uma, que eu saiba) que crêem que eu me tenho em grande estima, com isto querem dizer que me considero superior aos outros e chamam-me elitista.
Lembro-me em tempos de pessoas, com quem não falava por não as conhecer, virem falar comigo e dizerem-me que era antipático e mesmo elitista por não falar com elas, a que eu respondia “mas eu não vos conhecia e não sabia, nem tinha, nada para dizer, porque é que havia de ter dito alguma coisa? Porque não falaram vocês que estavam na mesma situação que eu?” e depois as relações normalizavam porque todos fazemos isto sem intenção de magoar as outras, apenas por nos refugiarmos no silêncio como protecção.
Sobre o mesmo assunto, um outro alguém sentou-se ao pé de mim, já a conhecia, e disse-me que devia prestar mais atenção às conversas entre as pessoas, a que perguntei prontamente “Porquê?”. Ela sem rodeias disse-me directamente que as pessoas (neste caso referia-se particularmente à minha pessoa) não precisam de estar sempre a dizer coisas interessantes para que as pessoas falem entre si. Na verdade, na grande maioria dos casos, as pessoas quando estão juntas nada dizem de especial, a que eu concordei mas tentei defender a minha posição com a falta de convivência que permitisse saber os temas de conversação possíveis em novos grupos de sociabilização e essa era a pura e simples razão porque me permanecia muitas vezes calado. “Sim eu sei”, respondeu-me ela com um grande sorriso “mas mesmo assim não o necessitas de fazer sempre. Qualquer coisa serve para cativar e fazer conversa. As pessoas não ligam ao conteúdo.”.
(Não sei, agora que penso mais no assunto, se ela não me queria dizer que todos se sentem sempre um pouco sozinhos durante toda as suas vidas)
Mas cada dia que passa a estima que nutro por mim, encontro espelhadas nas palavras que este poeta proferiu:
"(.)
que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
(.)
Conquistámos o mundo antes de nos levantarmos da cama,
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a via láctea e o indefinido.
(.)
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz,
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido(...)"
Álvaro de Campos "Tabacaria" (trecho)
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