12.12.2008

Ventura ainda era um jovem mas já com muitas 'milhas no lombo', como ele própria se referia a si mesmo. Tinha escolhido ser camionista por diversas razões. A primeira por gostar de conhecer pessoas novas, outras línguas, outras mulheres. A segunda razão foi ter nascido numa família de poucas poses, tendo que ir trabalhar bem cedo na sua vida, abdicar dos estudos e depender de si mesmo. Ser camionista, cumpria com estas duas razões, recebia por conduzir e ao mesmo tempo circulava por toda a Europa.
Dizia que Deus escreve por linhas tortas, e que a sorte dele foi ter nascido numa família pobre, senão nunca teria pensado em conduzir um camião, porque não é uma profissão com boa reputação. Mas foi aquela que o escolheu e em parte que ele escolheu.
Hoje estava de volta 'à terra' e na melhor altura do ano, nas festa da cidade, que ocorriam todo os anos no Verão, altura em que todas as famílias de emigrantes voltavam à terra, mostrar o dinheiro que tinham (o dinheiro que tinham poupado para poder mostrar todos os anos às outra famílias), os seus potentes carros e dizerem mais uma vez mal do seu país... mas todos voltavam.. os filhos, a segunda geração de emigrantes, é que já não voltava com tanta frequência e isso deixava-os tristes, porque aprenderam a ver o seu país pelas palavras dos seus pais, sempre a criticar e a não encontrar anda de bom nele... sem compreenderem que esse é o modo do português dizer bem da sua terra... que essa era a maneira de expressarem o que sentem....
O Ventura não ia cair nessa esparrela. Iria sempre morar em Portugal, fazer família em Portugal, porque sabia que um dia iria ficar cansado demais de tanto viajar, e o único sítio onde conseguia descansar era na sua santa terrinha ou perto dela. Apesar de muito despovoada, era ali que conseguia passar tardes a olhar para o céu sem se cansar, sem ter pressa de ter que ir a algum sítio... nos outros sítios, no estrangeiro, mesmo que não tivesse nada que entregar ou o trabalho tivesse sido feito, ficava sempre inquieto, com as pernas a abanar, sem conseguir olhar para o céu....


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